quarta-feira, 18 de julho de 2012

Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?

Quem entrava na sala da minha casa no Brasil se deparava com um adesivo colado na parede com a seguinte frase “Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?”. Eu queria que meus convidados parassem para refletir... Mas a frase acabou se tornando, na verdade, um desafio para mim. Queria chegar em casa no final do dia, olhar para a pergunta e poder responder: Hoje! É claro que a rotina não me permitia responder “Hoje” todos os dias, mas só de sair de casa com essa questão na cabeça, já ajudava a me esforçar durante o dia para tentar alcançar o tal do “Hoje” quando chegasse em casa.
Construir uma nova vida em outro país é responder “Hoje” até mais de uma vez por dia. Todo dia se faz algo diferente. Todo dia se vai a algum lugar diferente. Todo dia se conversa com alguém pela primeira vez. Com o passar do tempo e a vida se estabilizando, isto é, com uma rotina se criando a minha volta, responder “Hoje” foi ficando mais difícil, mas mesmo assim, tento manter esse desafio como uma das minhas prioridades diárias.


A primeira bicicleta a gente nunca esquece
Sem querer, ou melhor, sem pensar na frase, acabei – aqui - fazendo algo pela primeira vez, que – acredito – vale a pena dividir com os leitores desse blog. No auge da minha idade (ah, por favor, não me pergunte esse detalhe! Sem falar que seria indelicado da sua parte...rs), não só comprei pela primeira vez, como agora tenho – pela primeira vez – a minha própria bicicleta! Com a proximidade do verão, achei que seria uma boa aquisição. Não, não foi boa. Na verdade foi uma excelente aquisição!
Para uma pessoa que aprendeu a andar de bicicleta na bike do primo nas ruas largas e calmas da Praia Grande (SP) de antigamente, seria sem dúvida um grande desafio subir em uma bicicleta depois de tantos anos. Mas para minha surpresa, o meu desafio se limitou em lidar com os motoristas e aceitar que aqui, o pedestre (ou o ciclista) é rei, ou rainha, no meu caso.
Uma mãozinha na ladeira...
seria tão bom!
Aqui, não ouse parar a sua bicicleta em uma esquina para se decidir em qual caminho seguir. Fiz isso e todos os quatro carros vindos de todas as direções pararam automaticamente. Tive que me decidir rápido e seguir. Bom, para quem fica sem fôlego só de usar um enxaguatório bucal, subir uma ladeira pedalando é algo inimaginavelmente cansativo. Após a tal da ladeira, alcancei a outra esquina, avistei um carro que estava dando seta e que iria virar na rua em que eu estava. 

Gesticulei para que ele seguisse (eu queria descansar um pouquinho... Já estava naquela fase de empurrar a bicicleta), mas ele fez sinal para que eu seguisse. Tentei mais uma vez e fiz o gesto de “por favor, pode passar o senhor”. Negativo. O motorista insistia em ficar ali parado me esperando atravessar. Ok. Desisti de insistir por dois motivos: um, eu estava tão cansada que não tinha condições de entrar em uma competição “de quem é mais gentil”. Dois, eu perderia o duelo. Afinal, enquanto pedestre sou uma rainha, lembram? Respirei fundo para resgatar meu último estoque de energia, coloquei a coroa na cabeça e atravessei a rua.
Eu na minha bike em Calgary
Quando comprei a bicicleta (linda, pretinha básica e com cestinha!) eu não fazia idéia de que após cada passeio, sempre voltaria para casa com a resposta “Hoje!” para a minha questão da parede. HOJE desci uma rua bem íngreme sem qualquer medo. HOJE soube lidar com os motoristas que me elegeram rainha sem ficar irritada (quem diria que isso irritaria alguém?). HOJE já consegui deixar a bicicleta me conduzir (leia-se: apertei menos o breque). HOJE entendi o que significa sentir a liberdade em forma de vento. HOJE, HOJE, HOJE...

Enquanto o calor permitir, seguirei com meus pequenos passeios de bicicleta, afinal eles estão me ajudando a fazer todos os dias algo pela primeira vez. Quando o outono chegar e o seu inseparável amigo-ventinho-super-gelado dobrar a esquina (mal educado que é, nem pára para a gente atravessar!), sei que o destino da minha bike por um longo período vai ser o depósito da garagem. Sei que lá vão ficar guardadas minhas “últimas vezes que eu fiz algo pela primeira vez”... Últimas vezes que fiz algo com a bicicleta, porque ali mesmo numa caixinha estão os meus patins de neve, prontinhos para mais “últimas vezes que eu fiz algo pela primeira vez”!
E você?
Quando foi a última vez que fez algo pela primeira vez?
Karin Silvestre