Há mais ou menos
duas semanas me deu o tal dos “cinco
minutos”, mais conhecido como faniquito (alguém já tinha escrito essa palavra
antes?). É verdade
que acordei irritada e assim foi o dia todo. Lá pelas tantas (já era madrugada)
resolvi dar um basta na mútua-invasão-de-privacidade-da-vida-alheia, mais
conhecido como Facebook (sim, aqui estou eu falando nele de novo!). Decidi que
não dava mais e... pedi para sair. Simples assim. Até pensei em escrever aqui
no blog sobre os motivos que me levaram a sair do Face, mas o que aconteceu
depois foi algo tão surpreendente que decidi contar também os motivos que me
levaram a voltar.
Nessa não declarada competição de quem tem mais amigos, tenho certeza que muitos dos meus “amigos” nem notaram a minha saída e só estão sabendo disso agora. Mas sim, eu – por alguns poucos dias, é verdade – consegui sim sair do Face e confesso: me senti vitoriosa, afinal, meus caros não assumidos-viciados em Face, apertar a tecla tcháu e colocar um basta na relação com seus trocentos amigos, com todas aquelas fotos de lugares maravilhosos, todas aquelas fotos de família perfeita de comercial de TV, suas lindas frases de efeito (de autores dos quais nem lemos uma obra sequer) e virar as costas para as todas as opiniões (sempre) formadas de todos, não é das tarefas mais fáceis. Mas eu consegui e garanto: foi libertador.
Por alguns dias pude desfrutar da antiga paz que me permitia viver apenas na (e não “a”) realidade, porque – convenhamos – o Face é bem surreal! Criamos em nossas páginas uma vida diferente daquela do nosso dia-a-dia. Eu não viajo todo final de semana, não estou rindo durante 24 horas por dia, minha gata nem sempre está linda, branca e saudável e nem de longe ando produzida como mostra algumas de minhas fotos. Mas o Face não foi feito para mostrarmos a nossa real-realidade. Ele - pelo contrário - é o “brinquedinho” que usamos para nos distanciarmos cada vez mais dela e sermos “livres” para brincar de sermos quem realmente não somos. Mas quem já não se perdeu nessa brincadeira que atire a primeira pedra. Eu já. Me perdi acreditando que aquilo que eu estava vendo era real. Já dei risada acreditando, mas também já chorei acreditando. E pior: perdi muito tempo nessa brincadeira.
Então, no dia do
faniquito, cansada de invadir a vida dos outros e de me deixar ser invadida,
dei um ponto final nessa relação. O que eu queria, o que eu buscava era voltar
a ter uma relação verdadeira (real mesmo) com pessoas que fazem parte e
diferença na minha vida. Pessoas com as quais eu pudesse ter uma relação sem ter
que digitar um login e uma senha.
Como eu disse antes,
algo supreendente aconteceu após a minha saída. Recebi alguns emails de pessoas
que me questionavam o porquê eu havia saído do Facebook. Fiquei surpresa,
confusa e, confesso, até um pouco irritada. Precisava dar satisfação do porquê
eu havia saído do Facebook?!? Que loucura! A que ponto chegamos! Após o
susto, parei para refletir e cheguei a conclusão de que quando lá entrei recebi
vários “Seja bem-vinda”, afinal eu estava entrando no universo paralelo de cada
um e, muito mal educada que fui, acabei saindo sem me despedir. Então,
aproveito a oportunidade para – virtualmente falando – pedir desculpas pela
minha nada honrosa atitute.
Confesso que se ainda estivesse morando no Brasil,
teria me desconectado para sempre do meu mundo virtual, porque a verdade é que eu não consigo mais achar tanta graça em ficar vendo fotos, curtindo, comentando, postando e fuçando a vida alheia. Mas morando aqui, tão
longe da família, sair do Face foi fechar a porta para aqueles com quem eu não mantenho outro tipo de contato, nem por email, nem por Skype e nem por telefone. Para endossar a minha volta, cito como exemplo meu pai,
que no auge dos seus 47 anos (como ele costuma brincar), entrou no Facebook por
minha causa, para ver minhas fotos, fazer parte da minha vida (mesmo que não
tão real assim). Da Espanha, tenho tios queridos que me acompanham pela rede.
Da Grécia, uma prima que, assim como eu, não teve medo de mudar o destino. Do Brasil,
meus pais, minhas irmãs, sobrinhos, família toda e amigos. Como não deixá-los
participar dessa minha atual gelada loucura de ter vindo morar no Canadá? Não,
não. Não vou mais poupá-los de sentir junto comigo esse frio todo daqui!
Karin Silvestre