Agora, imagine-se nessa situação: você tem apenas duas malas. Repito: duas malas. Você pode levar o que quiser, desde que caiba nessas duas únicas malas. Mais duas regras do jogo: a passagem é só de ida e, sua casa, assim que você fechar a porta e seguir para o aeroporto, vai desaparecer. Olhe para sua casa. Ande por ela. Entre nos quartos, nos banheiros, na cozinha, na sala. O que você pegaria para levar? O que você colocaria nas malas? O que você deixaria para todo o sempre, amém?
Passamos - meu marido e eu - por essa situação quando viemos morar aqui no Canadá. E se você acha que depois que fechei a porta da minha casa no Brasil, com as malas no carro, em direção ao aeroporto, tudo estava melhor, uma vez que já tinha feito minhas escolhas sobre o que entraria nas malas e o que ficaria, está enganado. Partir não é fácil. Mas o chegar, isto é, o começar de novo, é in-fi-ni-ta-men-te mais complicado (assunto para um outro post).
Voltando às escolhas sobre o que levar e o que deixar, preciso adicionar mais um ingrediente aí. Vender e dar. Outras duas decisões difíceis. O que tem dentro da sua casa, vale ouro para você, mas fora dela, vale nada. Precisei vender e dar objetos que levei anos para comprar e que eu, até então, nem sabia que tinha desenvolvido um sentimento por eles. Eles eram o espelho das minhas conquistas, das minhas escolhas, da minha maturidade. De repente, vi minha casa vazia. Me senti vazia também, como se com a partida dos meus objetos queridos, coloridos e milimetricamente medidos, meu poder tivesse partido também. Confesso que fiquei com medo. Tantos anos para conquistar tudo aquilo e em duas semanas, o abracadraba da varinha mágica, fez tudo desaparecer. Mas, essa mesma varinha, com seu poder mágico, fez reaparecer minhas coisas (não mais minhas agora) em outras casas. Encontrou outros donos, outros destinos. A varinha também me presenteou: me bateu com força na cabeça e gritou um sonoro: acorda! Me ensinou a lição do desapego. Objetos. Apenas objetos.
Apesar da lição séria da varinha, tem a parte trágico-cômica da história. Preciso contar que quando chegamos, ao desfazer as malas, o closet era menor que o nosso, então, a solução foi espalhar as roupas pelos guarda-roupas dos outros cômodos. Até hoje, quando penso em uma roupa para colocar, saio em busca dela pela casa. Não encontrando, me dou conta que não a trouxe. A coitadinha foi preterida.
E assim também não é a nossa vida? Repleta de escolhas? Desde que cheguei aqui, tenho passado diariamente por isso. Às vezes, escolho o certo. Às vezes, escolho o que, no momento, acho certo, mas depois percebo que não era bem o certo. Às vezes - assumo - escolho errado mesmo e aí... paciência! Se eu apreder alguma coisa com isso, valeu o erro!
Karin Silvestre
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