domingo, 8 de dezembro de 2013

Prato do dia: Aonde está o inglês no Brasil?


Está na lanchonete na forma redonda de um cheeseburger com muito ketchup ou na forma cilíndrica de um hot dog. Pode também estar na forma líquida e saborosa de um milk shake.    E essas guloseimas estão todas num tal de fast food, mas se você mesmo se servir, ah, aí vira self service. E se pedir em casa? É delivery! E chega rapidinho trazida por aquele motoboy com aquela tatto no braço. Mas e se a fome está junto com a pressa? O jeito é passar no drive-thru. Nessa hora, o melhor é deixar de ser diet e encarar logo uma banana-split ou um sundae com cookies. Mas não tem jeito. A consciência vai ficar heavy, você vai ficar down e aí o jeito é queimar essas calorias fazendo muito gym com um personal trainer para dar logo um up no seu shape.

Também está no shopping. Grudado nas vitrines que gritam as sales com 30, 40, 50% off. Está na calça jeans e no shorts de cintura baixa que deixa à mostra o piercing que faz da garota de hoje, não mais a top model de ontem, mas sim a it-girl, cheia de style. Mas se o shopping está cheio e o money está curto, a melhor opção é esperar pelo Black Friday e fazer as compras online. Qualquer dúvida basta enviar um e-mail ou entrar no chat da empresa. Fast e simple.

É possível encontrá-lo também na lanhouse. Aquele ambiente repleto de computadores e notebooks, onde no ar circula um tal de wireless que permite surfar livremente na internet. E é no Instagram que se postam as fotos apenas com um clique, claro, depois de ter feito o download do pendrive. Checar as músicas Top 5 (Five) do momento, basta recorrer ao YouTube. Já no Facebook, a labuta diária fica bonita: o real vira fake depois de alguns posts. Mas ninguém se importa: lá todo mundo está sempre happy. What a wonderful world!

E o inglês é forte até mesmo quando o sun já foi embora. Quando é possível dar um break nos pensamentos e curtir a night em casa mesmo. Free time, finalmente! E nada de playstation, tablet ou scannear aquela papelada que faltou. Ligar a TV e ver The Voice ou Big Brother Brazil, nem pensar. Relax total. Sem stress. Se possível, esticar o body na cama king size. Mas antes, tirar uns cubos de ice do freezer e colocar na água, afinal a primavera está muito hot. Uma massagem express seria perfeita antes de voltar para aquele best seller, que espera no criado-mudo. Agora se o dia foi muito bad, o melhor mesmo é deletá-lo e ir dormir. Good night!
Karin Silvestre


domingo, 31 de março de 2013

Prato do Dia: matando a fome da saudade!

Coxinha de frango. Pastel, de e na feira, claro. Acompanhamento: caldo de cana com um pouquinho de limão. Aquele vinagrete (duvidoso) vai bem também. Esfiha. De carne e aberta. Kibe. Comida de mãe: macarrão de forno, arroz com feijão, bolinho de carne, sanduíche de forno, farofa de soja, bolo de nozes, bolinho de bacalhau. Comida de sogra: trufas, torta de maçã e brigadeiro. Almoçar no Galetos com sogro e sogranicedrasta. Sexta-feira: pizza na casa dos meus pais. Rodízio japonês. Pão na chapa na padaria. Suco natural. Sol. De verdade. Quentinho. Vitamina D natural. Direto da bola amarela e redonda. Museu do Ipiranga. Água de coco: direto do coco! Família!!!!! Ao vivo e em cores. Checar crescimento dos sobrinhos. Conhecer a nova sobrinha. Amigos!!!!! Ao vivo e em cores. Papo em dia. Reunião com as amigas (esse encontro vai durar um dia todo!). Usar apenas uma peça de roupa: uma calça, uma blusa, uma meia... Nada duplo. Usar vestido. Usar sandália. Avenida Paulista. 25 de março. Mercadão. José Paulino. Brás. Centro da Cidade. Trânsito. Poluição. Barulho. Filas. Chuva. Tomar chuva. Inundação. Metrô lotado. Notícias ruins na TV. Novelas. Médico. Dentista. Veterinária: Dra. Sirlei. Banco. Ovo Maltine do Bob´s. Praia. Mar. Areia. Andar descalça. Churrasco. Mormaço. Checar previsão do tempo: nunca abaixo de zero! Falar sem errar. Ouvir e entender. Sentir-se confortável: lá, eu sei as regras. Falar sem parar. Tantas histórias. Contar várias vezes. Escutar. Tantas histórias. Passear por shoppings já tão conhecidos. Conhecer shoppings recém-inaugurados. Macarrão e frango de padaria no domingo. Parque do Ibirapuera. Famiglia Mancini. Picolé. Café. Marguerita na Pizzaria Marguerita. Nhá benta. Bolo mil folhas da São Gabriel (do meu casamento). Tempo úmido. Bolinho de chuva. Primeiro de abril.
 
Karin Silvestre

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Prato do Dia: Paciência... Ele corre sozinho.

Eu sei, eu sei. Faz tempo que eu não escrevo. Estive por aí, por aqui, por lá. Não é fácil arrumar um tempinho para fazer o que se gosta quando você entra na fase  do “tentando se encontrar”. E, obviamente, só quer se encontrar, quem já se perdeu.  Levante a mão quem já não se perdeu? Tem gente que se perde na rua, tem que gente que se perde mesmo usando o GPS e tem gente que se perde nos próprios pensamentos. Eu? Ah, eu me perco em todas as opções!
O que eu tenho aprendido nessa minha busca pela minha própria localização é que não adianta passar a perna no tempo e tentar chegar no destino final antes do previsto. Isso só gera ansiedade, que gera estresse, que gera doença e por aí vai. A palavra (que eu odeio, por sinal) é Paciência. Assim como nasci sem GPS, também nasci sem paciência. Mas como estamos todos aqui nessa escolinha chamada vida  para aprender, o jeito é fazer a lição de casa. A minha, sem dúvida, é resolver as equações da tal da dona Paciência. E olha que eu nem sou tão boa em matemática...rs.
 






A vida - sabendo desse meu ponto franco - resolveu me ensinar na prática (sem números) uma pequena lição. Ela começou há muito tempo,  quando vi um livro em cima da cama da minha irmã (estudante de psicologia na época) que se chamava “Não apresse o rio, ele corre sozinho”.  Provavelmente eu deveria estar com pressa (leia-se: sem paciência) e acabei não abrindo e nem lendo o tal livro. No entanto, o título nunca saiu da minha cabeça, principalmente ultimamente, em que estou num momento de total ansiedade e nenhuma paciência. Tenho usado essa frase do título como um mantra: não apresse o rio, Karin, ele corre sozinho! Não apresse o rio, Karin, ele corre sozinho...


Meus "adversários"
Curiosamente passei por uma situação, aqui no verão canadense, no qual esse meu mantra acabou se materializando. Dois rios (Bow e Elbow) cortam a cidade de Calgary. No verão, “just for fun”, é muito comum vestir os coletes salva-vidas e jogar o bote no rio. Claro que não poderíamos perder essa experiência e lá fomos nós. Nosso grupo se dividiu em três botes. Um, só com adultos. Outro, com dois meninos de 11 anos e o terceiro com três adolescentes (duas meninas e um menino).  Decididos a trocar a cor de neve da pele por um amareladinho, os adolescentes deitaram-se no bote e abandonaram o remo. Claro que ficaram para trás (para mim, o “just for fun” já tinha virado competição a partir do momento que sentei no bote).





Meu marido se esforçando
para ganharmos a "competição"
 
A disputa (criada somente na minha cabeça) começou. Nós contra os menininhos! Não, não pense que meu bote – por só ter adultos – estava com vantagem. Muito pelo contrário. Dois remos. Dois adultos remando, sendo... um para cada lado! Resolvi agir e passei a remar. Não era tão fácil quanto parecia. O vento estava contra. Muita força era feita e atolávamos nas pedras. Avistava o bote dos adolescentes de vez em quando. Bem longe da gente. Só dava para ver três pares de pés para fora do bote... Uma tranquilidade. Não, não tenho tempo a perder. Voltei para o remo.
 
Em determinado momento do percurso, o rio foi cortado por uma montanha de pedras. Logo após esse “obstáculo” estava a nossa linha de chegada. Rema, rema, atola, pára, vira o barco, rema para a direita, vamos! Direita, esquerda! Rema! O rio acabou separando os botes: o dos meninos e o nosso seguiu por um lado da montanha e o bote dos adolescentes-tranquilos foi levado pelo rio para o outro lado. E foi com os olhos arregalados e com a boca aberta que vi eles - tranquilamente - ganharem a “competição”, sem nem ao menos pegarem no remo!



Exemplo de quem vence a competição sem apressar o rio
 

E, naquele momento, como não poderia deixar de acontecer, a frase se materializou: “Não apresse o rio, ele corre sozinho”. Hoje sei que esse episódio nada mais foi do que a vida me ensinando mais um capítulo da difícil lição da importância de se ter paciência.
 

Karin Silvestre

 
 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Prato do Dia: Porque eu VOLTEI para o Facebook


Há mais ou menos duas  semanas me deu o tal dos “cinco minutos”, mais conhecido como faniquito (alguém já tinha escrito essa palavra antes?). É verdade que acordei irritada e assim foi o dia todo. Lá pelas tantas (já era madrugada) resolvi dar um basta na mútua-invasão-de-privacidade-da-vida-alheia, mais conhecido como Facebook (sim, aqui estou eu falando nele de novo!). Decidi que não dava mais e... pedi para sair. Simples assim. Até pensei em escrever aqui no blog sobre os motivos que me levaram a sair do Face, mas o que aconteceu depois foi algo tão surpreendente que decidi contar também os motivos que me levaram a voltar.

Nessa não declarada competição de quem tem mais amigos, tenho certeza que muitos dos meus “amigos” nem notaram a minha saída e só estão sabendo disso agora. Mas sim, eu – por alguns poucos dias, é verdade – consegui sim sair do Face e confesso: me senti vitoriosa, afinal, meus caros não assumidos-viciados em Face, apertar a tecla tcháu e colocar um basta na relação com seus trocentos amigos, com todas aquelas fotos de lugares maravilhosos, todas aquelas fotos de família perfeita de comercial de TV, suas lindas frases de efeito (de autores dos quais nem lemos uma obra sequer) e virar as costas para as todas as opiniões (sempre) formadas de todos, não é das tarefas mais fáceis. Mas eu consegui e garanto: foi libertador.



Por alguns dias pude desfrutar da antiga paz que me permitia viver apenas na (e não “a”) realidade,  porque – convenhamos – o Face é bem surreal! Criamos em nossas páginas uma vida diferente daquela do nosso dia-a-dia. Eu não viajo todo final de semana, não estou rindo durante 24 horas por dia, minha gata nem sempre está linda, branca e saudável e nem de longe ando produzida como mostra algumas de minhas fotos. Mas o Face não foi feito para mostrarmos a nossa real-realidade. Ele - pelo contrário - é o “brinquedinho” que usamos para nos distanciarmos cada vez mais dela e sermos “livres” para brincar de sermos quem realmente não somos. Mas quem já não se perdeu nessa brincadeira que atire a primeira pedra. Eu já. Me perdi acreditando que aquilo que eu estava vendo era real. Já dei risada acreditando, mas também já chorei acreditando. E pior: perdi muito tempo nessa brincadeira.
 

Então, no dia do faniquito, cansada de invadir a vida dos outros e de me deixar ser invadida, dei um ponto final nessa relação. O que eu queria, o que eu buscava era voltar a ter uma relação verdadeira (real mesmo) com pessoas que fazem parte e diferença na minha vida. Pessoas com as quais eu pudesse ter uma relação sem ter que digitar um login e uma senha.

Como eu disse antes, algo supreendente aconteceu após a minha saída. Recebi alguns emails de pessoas que me questionavam o porquê eu havia saído do Facebook. Fiquei surpresa, confusa e, confesso, até um pouco irritada. Precisava dar satisfação do porquê eu havia saído do Facebook?!? Que loucura! A que ponto chegamos! Após o susto, parei para refletir e cheguei a conclusão de que quando lá entrei recebi vários “Seja bem-vinda”, afinal eu estava entrando no universo paralelo de cada um e, muito mal educada que fui, acabei saindo sem me despedir. Então, aproveito a oportunidade para – virtualmente falando – pedir desculpas pela minha nada honrosa atitute.

Confesso que se ainda estivesse morando no Brasil, teria me desconectado para sempre do meu mundo virtual, porque a verdade é que eu não consigo mais achar tanta graça em ficar vendo fotos, curtindo, comentando, postando e fuçando a vida alheia. Mas morando aqui, tão longe da família, sair do Face foi fechar a porta para aqueles com quem eu não mantenho outro tipo de contato, nem por email, nem por Skype e nem por telefone. Para endossar a minha volta, cito como exemplo meu pai, que no auge dos seus 47 anos (como ele costuma brincar), entrou no Facebook por minha causa, para ver minhas fotos, fazer parte da minha vida (mesmo que não tão real assim). Da Espanha, tenho tios queridos que me acompanham pela rede. Da Grécia, uma prima que, assim como eu, não teve medo de mudar o destino. Do Brasil, meus pais, minhas irmãs, sobrinhos, família toda e amigos. Como não deixá-los participar dessa minha atual gelada loucura de ter vindo morar no Canadá? Não, não. Não vou mais poupá-los de sentir junto comigo esse frio todo daqui!

Karin Silvestre

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Prato do Dia: O que dura para sempre?



Como eu escrevi em outro post, a vida é feita de fases. Temos que colocar na cabeça de uma vez por todas que nós não “somos”. Nós “estamos”. Se compreendermos isso e, principalmente, incorporamos isso, a vida ficaria, sem dúvida, tão mais simples, tão mais leve, tão mais gostosa de ser vivida.
 
 
Vou exemplificar. Se eu penso, por exemplo, que sou uma pessoa sem sorte, vou ficar deprimida e achar que tudo vai dar errado mesmo e que nem adianta lutar, afinal sou sem sorte mesmo. Agora, se eu simplesmente me utilizar do verbo-amigo “estar”, vou pensar que estou sem sorte nesse momento, mas vejo possibilidades num futuro próximo. E tudo muda!


Seguindo nessa linha, não vou dizer, por exemplo, que estou desempregada. Vou dizer que estou curtindo o verão (bem melhor, hein?). Bom, então, já que incorporei que no momento estou curtindo o verão, tenho passado uma parte dos meus ensolarados (e tão amados, salve, salve) dias lendo para melhorar meu inglês (descobri que isso será o máximo que vou conseguir... melhorar. Porque falar como os nativos, só nascendo em país de língua materna inglesa! Bom, falo por mim, claro).

 
Estou me sentindo naquela famosa fase pré-vestibular. Aquela em que os candidatos lêem até bula de remédio. Enfim, lendo um livrinho (aquele que você termina de uma tacada só), me deparei com uma frase que me fez conseguir (tentar) mudar a minha (nossa, talvez?) tendência para o negativismo. Ei-la: What three words make you sad when you´re happy and happy when you´re sad? The answer is Nothing lasts forever”. Tradução: Qual as três (no caso da língua portuguesa, quatro) palavras que faz você ficar triste quando você está feliz e feliz quando você está triste? A resposta é Nada dura para sempre”.
 
Eu sei. Isso é óbvio. Não é óbvio? Mas o óbvio surpreende. Clarice Lispector nos brindou com a frase “O óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar”. Anonimamente alguém escreveu “O óbvio só é óbvio para os olhos preparados”. Aquela frase do livrinho saltou aos meus olhos como se estivesse grafada com caneta-amarelão-marca-texto. Nada dura para sempre. Coisas boas ou coisas ruins: nada dura para sempre. Na fase boa, aproveite. Na fase ruim, espere. Porque nada dura para sempre.

Karin Silvestre

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Prato do Dia: Supermercado de Conhecimento


Meu marido, meu incentivador
No post anterior descrevi a sensação de como foi a última vez que eu fiz algo pela primeira vez. Contei como eu criei coragem e comprei – pela primeira vez - minha própria bicicleta. Nesse post, a ideia era escrever a parte 2 dessa história. Caberia aqui relatar que a compra da bicicleta ficou agora para a penúltima vez, já que recentemente me aventurei na minha última vez que fiz algo pela primeira vez: jogar tênis! (marido esportista é isso que dá!rs). Resumidamente o que posso dizer até agora sobre “estar” tenista é: cansa, dói o braço, mas é divertido. Arrisco-me até a fazer uma pequena comparação entre Sharopava e eu: a minha sainha é mais bonita!rs.


Mas assim como quando estou pedalando por aí, sempre mudo o percurso, resolvi também mudar o caminho desse post. Virei uma direita aqui, uma esquerda ali, segui em frente e... lá estava ela! Aliás, ela foi a razão pela qual comprei a bicicleta. Ela é de tamanha importância para mim, que resolvi elegê-la o tema desse post. “Ela”é uma das 18 bibliotecas espalhadas por Calgary, cidade localizada na costa oeste do Canadá e onde resido atualmente.



A maior biblioteca fica no centro e a segunda maior fica... perto da minha casa! A apenas uma bicicleta de distância. A primeira vez que lá estive, me encantei com a estrutura física. Os vidros enormes por toda a sua extensão permitem uma visão praticamente panorâmica do quarteirão que a comporta. Permite, inclusive, ver a enorme quantidade de carros parados no estacionamento dela. Não importa o dia, não importa a hora, a biblioteca está sempre lotada.


Não pense que seus maiores usuários são pessoas mais maduras que preferem sentir o “aroma” do papel de jornal a clicar num link. Os frequentadores pertencem a todas as faixas etárias. Há também os frequentadores-mirins, aqueles que mesmo não sabendo ler, já se familiarizam no mundo da leitura participando das atividades (diárias!) junto aos monitores-voluntários, que lêem livrinhos, contam historinhas e colocam musiquinha. Tudo num ambiente colorido e aconchegante. (Isso sim é que pode se chamar de “preparar o leitor do futuro”...)

Na parte central da biblioteca há uma linda lareira cercada por vários sofás e poltronas. São nelas, aliás, que eu dispensava algumas horinhas folheando revistas. Só esperando para interagir com mais estrangeiros, que – assim como eu - buscavam por meio de um curso oferecido e ministrado na própria biblioteca, um aprofundamento no inglês. Isso acontecia uma vez por semana, por duas horas, com direito até a cafezinho. Sem custos.
Além dos livros tradicionalmente dispostos nas estantes, lá pode-se pegar emprestados DVDs (com o fechamento da Blockbuster, o número de filmes e documentários aumentou consideravelmente na biblioteca), CDs, audio-livros, livros em MP3 e revistas. É possível levar para casa até 99 ítens de uma só vez! Para isso, basta fazer uma carteirinha. Essa, na verdade, é um cartão-magnético que permite também que se acesse a internet de qualquer computador disponível todas as bibliotecas. Mas nada impede de se levar o próprio notebook e buscar inspiração sentando-se em uma das mesas de frente para um dos janelões. Esse cartão também dá acesso ao portal da Biblioteca na internet e é por lá que eu renovo todos os materiais emprestados.

Uma outra particularidade é que nessa biblioteca, o som da sua voz, definitivamente não é um pecado mortal. Ninguém fala baixinho, ninguém cochicha  e ninguém pede “shssssss”. Quem quer silêncio, deve dirigir-se à Sala do Silêncio (nada mais óbvio! Para que complicar?). E como ler e estudar exige concentração, nada mais apropriado do que ingerir uma cafeína básica, disfarçada num saboroso cappuccino na máquina de cafés.


Já abastecida e pronta para voltar para casa na minha bike, confesso que mesmo depois de tantas idas a esse colosso da informação, ainda me flagro observando extasiada as pessoas circulando com cestas (essas de fazer compras mesmo) pelos corredores da biblioteca. As crianças seguem os adultos e vão ajudando-os  a encher a cestinha. É um verdadeiro supermercado de conhecimento!


Na saída, é preciso fazer o check-out  no computador. Para isso, para alcançar o balcão, as crianças - já muito acostumadas com o ambiente - sobem tranquilamente num dos vários banquinhos coloridos disponíveis. Hora de partir. Coloco meu capacete e sigo meu caminho refletindo... Banquinhos que auxiliam a elevar as alturas físicas delas, mas banquinhos também que servem para deixar bem claro de que lugar de criança é também na Biblioteca. E é assim que se dá o pontapé inicial em busca da conquista do título de “país de primeiro mundo.”

Karin Silvestre  

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?

Quem entrava na sala da minha casa no Brasil se deparava com um adesivo colado na parede com a seguinte frase “Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?”. Eu queria que meus convidados parassem para refletir... Mas a frase acabou se tornando, na verdade, um desafio para mim. Queria chegar em casa no final do dia, olhar para a pergunta e poder responder: Hoje! É claro que a rotina não me permitia responder “Hoje” todos os dias, mas só de sair de casa com essa questão na cabeça, já ajudava a me esforçar durante o dia para tentar alcançar o tal do “Hoje” quando chegasse em casa.
Construir uma nova vida em outro país é responder “Hoje” até mais de uma vez por dia. Todo dia se faz algo diferente. Todo dia se vai a algum lugar diferente. Todo dia se conversa com alguém pela primeira vez. Com o passar do tempo e a vida se estabilizando, isto é, com uma rotina se criando a minha volta, responder “Hoje” foi ficando mais difícil, mas mesmo assim, tento manter esse desafio como uma das minhas prioridades diárias.


A primeira bicicleta a gente nunca esquece
Sem querer, ou melhor, sem pensar na frase, acabei – aqui - fazendo algo pela primeira vez, que – acredito – vale a pena dividir com os leitores desse blog. No auge da minha idade (ah, por favor, não me pergunte esse detalhe! Sem falar que seria indelicado da sua parte...rs), não só comprei pela primeira vez, como agora tenho – pela primeira vez – a minha própria bicicleta! Com a proximidade do verão, achei que seria uma boa aquisição. Não, não foi boa. Na verdade foi uma excelente aquisição!
Para uma pessoa que aprendeu a andar de bicicleta na bike do primo nas ruas largas e calmas da Praia Grande (SP) de antigamente, seria sem dúvida um grande desafio subir em uma bicicleta depois de tantos anos. Mas para minha surpresa, o meu desafio se limitou em lidar com os motoristas e aceitar que aqui, o pedestre (ou o ciclista) é rei, ou rainha, no meu caso.
Uma mãozinha na ladeira...
seria tão bom!
Aqui, não ouse parar a sua bicicleta em uma esquina para se decidir em qual caminho seguir. Fiz isso e todos os quatro carros vindos de todas as direções pararam automaticamente. Tive que me decidir rápido e seguir. Bom, para quem fica sem fôlego só de usar um enxaguatório bucal, subir uma ladeira pedalando é algo inimaginavelmente cansativo. Após a tal da ladeira, alcancei a outra esquina, avistei um carro que estava dando seta e que iria virar na rua em que eu estava. 

Gesticulei para que ele seguisse (eu queria descansar um pouquinho... Já estava naquela fase de empurrar a bicicleta), mas ele fez sinal para que eu seguisse. Tentei mais uma vez e fiz o gesto de “por favor, pode passar o senhor”. Negativo. O motorista insistia em ficar ali parado me esperando atravessar. Ok. Desisti de insistir por dois motivos: um, eu estava tão cansada que não tinha condições de entrar em uma competição “de quem é mais gentil”. Dois, eu perderia o duelo. Afinal, enquanto pedestre sou uma rainha, lembram? Respirei fundo para resgatar meu último estoque de energia, coloquei a coroa na cabeça e atravessei a rua.
Eu na minha bike em Calgary
Quando comprei a bicicleta (linda, pretinha básica e com cestinha!) eu não fazia idéia de que após cada passeio, sempre voltaria para casa com a resposta “Hoje!” para a minha questão da parede. HOJE desci uma rua bem íngreme sem qualquer medo. HOJE soube lidar com os motoristas que me elegeram rainha sem ficar irritada (quem diria que isso irritaria alguém?). HOJE já consegui deixar a bicicleta me conduzir (leia-se: apertei menos o breque). HOJE entendi o que significa sentir a liberdade em forma de vento. HOJE, HOJE, HOJE...

Enquanto o calor permitir, seguirei com meus pequenos passeios de bicicleta, afinal eles estão me ajudando a fazer todos os dias algo pela primeira vez. Quando o outono chegar e o seu inseparável amigo-ventinho-super-gelado dobrar a esquina (mal educado que é, nem pára para a gente atravessar!), sei que o destino da minha bike por um longo período vai ser o depósito da garagem. Sei que lá vão ficar guardadas minhas “últimas vezes que eu fiz algo pela primeira vez”... Últimas vezes que fiz algo com a bicicleta, porque ali mesmo numa caixinha estão os meus patins de neve, prontinhos para mais “últimas vezes que eu fiz algo pela primeira vez”!
E você?
Quando foi a última vez que fez algo pela primeira vez?
Karin Silvestre