Sempre ouvi dizer que a nossa vida é feita de fases. E
a cada fase, uma nova adaptação. E sendo seres adaptáveis que somos, com o tempo tudo vai se encaixando novamente (tem que se encaixar!)

No meu segundo post, prometi que iria escrever sobre como é a chegada de quem acabou de se mudar para outro país. Se eu tivesse que resumir em apenas uma frase, diria que é quando a grande maioria das mudanças mais importantes da sua vida acontece de uma só vez. A primeira coisa que devo dizer para quem quer se arriscar é: não é fácil. É claro que eu só posso relatar a minha experiência, mas pelo que passei, posso afirmar que não deve ser lá muito diferente de outras chegadas.
Quatorze horas separavam a minha cozinha do passado da minha cozinha do futuro. Foi como se de repente ela tivesse entrado num auto-colapso. O suposto promissor curso de nutrição passou de “saindo do forno”direto para o freezer. Meu lar-doce-lar evaporou rápido como a água borbulhante na chaleira no fogão. Meu carro parou de beber gasolina e começou a tomar chá de sumiço. E sumiu. Meu emprego passou demais do ponto, queimou e, junto com ele, meu salário e independência financeira. Nada de chorar o leite derramado. Cozinha do passado. Ciclo fechado.
Muita gente se muda para um outro país já o conhecendo. Não foi bem o meu caso. Explico. Morei em Toronto há alguns anos e, nessa época, conheci Montreal e Quebec, mas o destino me trouxe para Calgary. Durante a longa viagem (dois aviões, perfazendo um total de 14 horas), entre a estressante preocupação em manter minha gata bem e viva (sim, ela veio comigo e meu marido, mais precisamente dentro da caixinha de transporte, alternando-se entre o colo dele e o meu), consegui visualizar o que estava sentindo: como se uma venda tivesse sido colocada em meus olhos e que só seria retirada após a aterrissagem do avião (não existe blind-date? Então, eu vivi uma blind-trip...).
Descemos em um aeroporto de uma cidade completamente estranha para nós. E seria nessa cidade que iríamos iniciar a nossa jornada. Qual não foi a minha surpresa ao perceber que ao descer do avião, a tal da venda continuava lá! E lá está, isto é, ainda cobre parte da minha visão. Com o tempo fui percebendo que, na verdade, apenas um pedacinho da venda é levantado a cada dia, porque o descobrimento de se morar em um lugar desconhecido é diário. E infinito.


Pode parecer piegas, não ligo, mas a verdade é que o que nos tínhamos (e temos!)- quando desembarcamos - era tudo o que precisávamos para iniciar a vida aqui: um ao outro (além da Polly, nossa gata, claro) e a vontade de morar fora do Brasil. Ah, e o emprego do meu marido também, porque nem pensar em viver só da brisa geladíssima do Canadá!
Karin Silvestre
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