Pastel. Pão de queijo.
Brigadeiro. Feijoada. Macarrão de forno. Farofa de soja. Pudim de leite
condensado. Sanduíche de pão de forma. Bolinho de bacalhau. Bolinho de arroz.
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Feito por mãe e sogra com massa trazida do Brasil |
Diferente do que se
possa imaginar, aqui no Canadá, comemos quase (quase) tudo o que estamos
acostumados a comer no Brasil. Basta comprar e fazer. Mas, quando você tem a
sorte de receber a visita dos seus pais, como não “aproveitar-se” dessa
situação? Não importa a idade que nossa mãe tenha ou a
idade que nós temos, mãe é mãe e filho é
filho. Para sempre. O eterno proteger e ser protegido. Mas mesmo sendo nossa
mãe, lá no fundo, vem aquela sensação de culpa de deixá-la manusear o fogão
para satisfazer um capricho nosso.
E quantas
vezes não nos aproveitamos – com a melhor das intenções, sem querer prejudicar
ninguém - de pessoas e de situações no
nosso dia-a-dia só para satisfazer nossos caprichos?
Capricho é uma
necessidade imediata. Dizem que se você conseguir segurar esse ímpeto por 24
horas, você terá 50% de chance a mais de mudar de opinião, isto é, desistir. Quer
aquela blusa linda e caréssima que fica se exibindo na vitrine toda vez que
você passa? Ela não sai da sua cabeça? Espere 24 horas. Se após um dia todo,
ela ainda estiver martelando na sua cabeça, vá e compre. No entanto, na maioria
das vezes, no dia seguinte, você nem se lembrará mais da calça. Opa, quero
dizer, da blusa. Ou era saia? Você nem se lembra mais. Outro capricho já deve
estar rondando sua cabeça.
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Minha ex-sala branca no Brasil |
Tive que lidar
com meus caprichos assim que me instalei aqui. Coisas bobas... Mas qual
capricho não é bobo?. Não ter um gaveteiro, não ter TV, não ter rádio-relógio,
não ter internet. Abrir a mala e não encontrar aquele livro. Não ter mais
nenhum dos vários objetos de decoração que levei anos para combiná-los em minha
sala branca. Enfim, foi uma batalha. Se eu venci? Algumas vezes, mas a maioria
perdi. Perdi, não porque consegui satisfazer meu capricho. Perdi quando me vi
chateada, mal-humorada e, às vezes, até irritada por não alcançar imediatamente
meu capricho-objetivo (ah, as sagradas 24 horas!).
Cada um de nós
tem caprichos diários e, consequentemente, frustações diárias. Lidar com elas
não é apenas uma questão de amadurecimento. É também uma questão de capacidade.
Já ouviu a frase “Quer ser feliz ou ter razão?" Muitas vezes temos que engolir
nosso capricho e seguir em fente (já engolimos tantos sapos, por que não
adicionar mais esse ítem ao menu?). Sei de pessoas que já perderam o emprego
simplesmente porque foram incapazes de engolir o capricho. O capricho de teimar
em dizer que estão certas. Vai ficar defendendo sua idéia até quando? Até
perder o emprego? Até fazer do seu amigo um inimigo? O que vale mais a pena? No
calor da situação, provavelmente a escolha será pelo lutar-por-minha-idéia-até-morrer,
mas espere 24 horas e, com certeza, você acordará com seu emprego e seu amigo.
Até agora só
falei do lado colesterol ruim do capricho. Mas ele também tem o seu HDL: a
satisfação. Se o seu capricho não for prejudicar nem você e nem ninguém, vá
fundo. A TV, o rádio-relógio, a internet, eu consegui (as 24, 48, 72 horas se
passaram e... não dá para viver sem a tecnologia, certo?). E a comida de mãe? O
pastel, o macarrão, a farofa de soja e o pudim... hummm... Satisfação garantida
de filha e a mãe de volta logo (assim espero). O gaveteiro? Bom, ele continua
na minha lista de caprichos, afinal preciso trabalhar meu amadurecimento e nada
melhor do que sempre ter uma listinha de frustações para lidar diariamente.
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